O canalha

"Nada incomoda mais um canalha que uma pessoa de bem. Fere a auto-estima do canalha saber que há pessoas honestas."
Senador Jefferson Péres

Davi do Nascimento, 14 anos

Concorrendo com 2 mil participantes, Davi do Nascimento, de 14 anos, aluno de balé da Vila Olímpica da Maré, foi selecionado para a Escola do Balé Bolshoi, em Joinville, Santa Catarina. Davi participou da última etapa seletiva no dia 18, pela única vaga para sua categoria (balé contemporâneo).

Em 2006 a aluna Jordana Vieira, então com 17 anos, havia sido a primeira aluna da Vila Olímpica da Maré a ser selecionada para o Bolshoi, um dos mais conceituados corpos de balé do mundo, com sede em Moscou e única filial em Joinville. A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer oferece aulas de balé em todas as vilas olímpicas. Mais informações pelo telefone 2497-4402.

Parabéns, Davi! :)

Rio eleito como melhor destino turístico do Brasil

O Rio de Janeiro foi eleito, pela quinta vez, como o melhor destino turístico do Brasil. A cidade foi escolhida por leitores da revista Viagem e Turismo, da Editora Abril, através de voto aberto, sem indicação de destinos. O secretário Especial de Turismo, Rubem Medina, vai receber o prêmio, numa festa preparada pela revista, nesta sexta-feira, dia 24, às 20h, no Morro da Urca.

O evento vai contar com a presença de autoridades das cidades concorrentes, além de integrantes do setor turístico. A eleição aconteceu entre 4 de junho e 15 de agosto. A cidade do Rio levou o prêmio também, nos anos de 2001, 2002, 2006 e 2007.

Não sei porque tem um bando de gente tão curiosa em saber

Não sei porque tem um bando de gente tão curiosa pra saber em quem vou votar.
O voto não é secreto?

Analisando as propostas dos candidatos

Meu voto vai, de longe, pro Gabeira. É mais pé-no-chão, mais lógico nos projetos e demonstrou um conhecimento mais amplo sobre os problemas do RJ sem esquecer as queixas dos cariocas. Pra finalizar, está entre os melhores parlamentares em várias pesquisas.

O Eduardo Paes está muito longe de conhecer os problemas do RJ, isso está mais do que claro em seu plano de governo. Ele pegou um bando de projetos que não deram certo, deu uma nova roupagem e entitulou aquilo de plano. O pior é que o eleitor é um bicho muito burro e provavelmente vai acabar elegendo essa anta.

Analisando os candidatos

Gosto do Fernando Gabeira, pelo que ele foi e pelo que ele é - são dois homens distintos convivendo em um só. O cara trabalha pelo que acredita e põe a mão na massa se preciso for. É inteligente, tem coragem e tem paixão - gosto muito disso.

As patifarias com que Eduardo Paes tem regido sua campanha são de envergonhar qualquer carioca.

Conclusão

É Fernando Gabeira!



Site da campanha do Gabeira:
http://www.gabeira43.com.br/nonflash/index.html

Site do Gabeira, que acompanho a séculos:
http://www.gabeira.com.br/fernandogabeira/

Acredito que sirva para muitos

Graças à evolução humana e à minha sorte, meus amigos até que são de uma boa safra. Raramente recebo algum insulto à minha inteligência mas mesmo assim, senti necessidade de escrever esse e-mail para evitar que os amigos dos amigos ou os desavisados percam tempo enviando-me:

- Alerta de vírus e outras pragas = Sou assinante de vários sites sérios que tratam do assunto, portanto quando aparecer alguma praga de verdade, saberei através do boletim de alguns deles. Como tenho no meu micro, um importante instrumento de trabalho, é evidente que tenho preocupações básicas em mantê-lo sempre seguro. Dessa feita, tenho bons programas de antivírus, firewall, spywares e rootkits, mantendo-os devidamente atualizados. Para completar, tiro pacientemente uma vez na semana para fazer a varredura completa. Igualmente, preocupo-me em atualizar constantemente as versões do meu navegador.

- Qualquer coisa sobre o Orkut = Isso porque eu acompanho vários blogs e sites que informam sobre os serviços do gigante Google, inclusive sobre o famigerado Orkut.

- Pedidos de doação de sangue = Se o pedido vier de alguém que realmente tenha intimidade suficiente comigo para pedir-me o meu sangue, com certeza terá a decência de dar um telefonema ou enviar um e-mail pessoal. Jamais receberei o pedido no meio de um bando de mensagens reencaminhadas, assim como, essa educada pessoa não me pedirá que eu repasse a todos os meus amigos - afinal, eles não tem nada com isso. Sendo caso de urgência, saberemos encontrar uma forma de conseguir o sangue.

- O filho do meu amigo sumiu = Simplesmente porque tenho certeza de que este filho sumido não estará na minha casa nem nos lugares que costumo frequentar. A outra justificativa é que todos se preocupam em pedir ajuda mas ninguém demonstra a mesma preocupação em divulgar que a criança foi encontrada. Até o momento, em dez anos de Internet, jamais recebi algum e-mail com informação real sobre desaparecimento de crianças. Sem contar que, se for mesmo verdade, os pais se preocuparão mais em postar a foto da criança num blog e/ou site e enviar o link do mesmo, devido a potencialidade enormemente maior de ter a foto da tal criança espalhada. Bem melhor e mais rápido do que sair enviando fotos e dados por e-mail...

- Empresa A ou B está dando alguma coisa se você reencaminhar aos amigos = Não acredito em Papai Noel nem em Coelhinho da Páscoa. Poupem-me!

- Acrescente seu nome no final e quando chegar a 500 envie para... = Posso ser boazinha mas não sou tapada. Deixem-me de fora de campanhas assim.

- Reencaminha para X amigos, inclusive pra mim que uma surpresa boa vai te acontecer = Tem muitas pessoas que acreditam nisso, eu prefiro ser descrente. Reforço o pedido: poupem-me!

- Qualquer outra mensagem sem pé, sem cabeça nem lógica e que demonstre uma total incapacidade de um mínimo sequer de raciocínio inteligente = Poupem-me! A vida é muito curta para ficar perdendo com bobagens.

- Uma pesquisa científica comprovou que... = Tenho certeza de que os jornais sensacionalistas, farão questão de divulgar o resultado da tal pesquisa se esta for mesmo verídica.

Beijinhos

Elida Kronig

Como será daqui pra frente?

Conhece alguma turma ou professora que tenha usado a crônica?
Mande e-mail URGENTE com os detalhes para minha id gmail: elidakronig.ek
Vamos fazer um trabalho bem legal. :)
PS.: o trabalho já foi feito mas ainda assim eu gostaria muito de conhecer os profissionais que utilizaram a crônica em algum trabalho.

A crônica
“Como será daqui pra frente?”

" Estive vendo as novas regras da ortografia.

Na verdade, já tinha esbarrado com elas trilhares de vezes, mas apenas hoje que as danadas receberam uma educada atenção de minha parte.

Devo confessar que não foi uma ação espontânea. Que eu me lembre, desde o ano retrasado uma amiga me enche o saco para escrever a respeito. Escrevo com a esperança de que diminua o volume de e-mails e torpedos que ela me envia. Em suma, que as novas regras ortográficas a mantenham sossegada por um bom tempo.

Cai o trema!

Aliás, não cai... Dá uma tombadinha.

Linguiça e pinguim ficam feios sem ele mas quantas pessoas conhecemos que utilizavam o trema a que eles tinham direito?

Essa espécie de "enfeiação" já vinha sendo adotada por 98% da população brasileira. Resumindo, continua tudo como está.

Alfabeto com 26 letras? O K e o W são moleza para qualquer internauta, que convive diariamente com Kb e Web-qualquercoisa. A terceira nova letra de nosso alfabeto tornou-se comum com os animes japoneses, que tem a maioria de seus personagens e termos começando com y. Esta regra tiraremos de letra.

O hífen é outro que tomba mas não cai.

Aquele tracinho no meio das vogais, provocando um divórcio entre elas, vai embora. As vogais agora convivem harmoniosamente na mesma palavra.

Auto-escola cansou da briga e passou a ser autoescola, auto-ajuda adotou autoajuda.

Agora, pasmem! O que era impossível tornou-se realidade.
Contra-indicação, semi-árido e infra-estrutura viraram amantes, mais inseparáveis que nunca. Só assinam contraindicação, semiárido e infraestrutura.
Quem será o estraga-prazer a querer afastá-los?

Epa! E estraga-prazer, como fica?
Deixa eu fazer umas pesquisas básicas pela Internet.
Huuummm... Achei!

Essas duas palavrinhas vivem ocupadíssimas, cada uma com suas próprias obrigações. Explicam que a sociedade entre elas não passa de uma simples parceria. Nem quiseram se prolongar no assunto. Para deixar isso bem claro, vão manter o traço.

Na contramão, chega um paraquedista trazendo um paralama*, um parachoque* e um parabrisa* - todos sem tracinho.

Com alguns pontapés coloquei todos no porta-malas pra vender no ferro-velho. O paraquedista com cara de pão de mel ficou nervoso. Só acalmou quando o banhei com água-de-colônia numa banheira de hidromassagem.

Então os nomes compostos não usam mais hífen? Não é bem assim.

Os passarinhos continuam com seus nomes: bem-te-vi, beija-flor. As flores também permanecem como estão: bem-me-quer, amor-perfeito.

Por se achar a tal, a couve-flor recusou-se a retirar o tracinho e a delicada erva-doce nem está sabendo do que acontece no mundo da Língua Portuguesa e vai continuar adotando o tracinho.

As cores apelaram com um papo estranho sobre estarem sofrendo discriminações sexuais e conseguiram na justiça, o direito de gozarem com o tracinho. Ficou tudo rosa-choque, vermelho-acobreado, lilás-médio... Porém, fique atento: cor de vinho, cor de burro quando foge.

As donas de casa quando souberam da vitória da comunidade GLS, criaram redes de novenas funcionando por 24h, para que a feira não se unisse sem cerimônia aos dias da semana. Foram atendidas pelo próprio arcanjo Gabriel que fez uma aparição numa das reuniões, dando ordens ao estilo Tropa de Elite:
- Deixe o traço!
Deu certo. As irmãs segunda-feira, terça-feira e as demais, para não caírem em pecado mantiveram o hífen.

Os médicos e militares fizeram um lobby, gastaram uma nota preta pra manter o tracinho. Alegaram que sairia mais caro mudar os receituários e refazer as fardas: médico-cirurgião, tenente-coronel, capitão-do-mar.

Uma pequena pausa para a cultura, ocasionada pelo trauma de ler muitas pérolas do Enem e Vestibular. Só por precaução...

Almirante Barroso não tem tracinho. Assim era chamado Francisco Manuel Barroso da Silva. Sim, o cara era militar da Marinha Imperial. Foi ele quem conduziu a Armada Brasileira à vitória na Batalha do Riachuelo, durante a Guerra da Tríplice Aliança.

No centro do Rio de Janeiro há uma avenida com seu nome (Av. Almirante Barroso). Na praia do Flamengo, há um monumento, obra do escultor Correia Lima, em cuja base se encontram os seus restos mortais. Fim da pausa!

Acho que algumas regras pra este tracinho, até que simpático, foram criadas por algum carioca apaixonado. Será que Thiago Velloso e André Delacerda tiveram alguma participação no acordo?

O R no início das palavras vira RR na boca do carioca. Não pronunciamos R (como em papiro, aresta e arara), pronunciamos RR (como em ferro, arraso e arremate). Falamos rroldana e não roldana, rrodopio e não rodopio, rrebola e não rebola.

Pois bem, numa das tombada do hífen, o R dobra e deixa algumas palavras com jeito carioca de ser: autorretrato, antirreligioso, suprarrenal. Será fácil lembrar desta regra. Se a palavra antes do tracinho (nem vou falar em prefixo) terminar com vogal e a palavra seguinte começar com R é só lembrar dos simpáticos e adoráveis cariocas.

Mais uma coisinha: a regra também vale para o S. Fico até sem graça de comentar isso, pois todos sabemos que o S é um invejoso que gosta de imitar o R em tudo. Ante-sala vira antessala, extra-seco vira extrasseco e por aí vai...

Quem segurou mesmo o hífen, sem deixá-lo cair, foram os prefixos terminados em R, que acompanham outra palavra iniciada com R, como em inter-regional e hiper-realista. Estes tracinhos continuarão a infernizar os cariocas.

O pré-natal esteve tão feliz, rindo o tempo todo com o pós-parto de uma camela pré-histórica que ninguém teve coragem de tocar no tracinho deles.

Já o pró-, um chato por natureza, foi completamente ignorado. Só assim manteve o tracinho: pró-labore, pró-desmatamento.

A vogal e o h não chegaram a nenhum acordo, mesmo com anos de terapia. Permanecem de cara virada um pro outro: anti-higiênico, anti-herói, anti-horário. Estou começando a achar que as vogais são semi-hostis com as consoantes...

Ao contrário das demais, as vogais gêmeas decidiram complicar e andar na contramão da simplificação. Daqui pra frente passarão a adotar hífen: arqui-inimigas, anti-inflacionária, micro-ondas, anti-ibérico, anti-inflamatório, micro-organismo. Quando não forem gêmeas, poderão sentar-se à mesma mesa: extraescolar, autoaprendizado, antiaéreo...

Uma inovação interessante:
- Podem esquecer o mixto, ele foi sumariamente despedido. Puseram o misto no lugar dele.

Fiquei bolada com essa exceção: o prefixo co não usa mais hífen. Seguiu os exemplos de cooperação e coordenado, que sempre estiveram juntas. Não estou me lembrando no momento, de nenhuma palavra que use co com tracinho. Será que sempre escrevi errado?

Quem diria que o créu suplantaria a ideia!? Teremos que nos acostumar com as ideias heroicas sem o acento agudo. Rasparam também o acento da pobre coitada da jiboia.

O acento do créu continua porque tem o U logo depois. Pelo menos a assembleia perdeu alguma coisa...

Vejo ao longe aproximar-se um bem-vindo amigo. Ele não é um bem-nascido mas foi bem-criado e tem bom-humor. Não vejo a hora de dar-lhe um abraço sem-cerimônia, mesmo que os passantes me considerem uma sem-vergonha."

Complementações

1- Há uma versão da crônica circulando em pps (novas_regras.pps). esta crônica foi utilizada pela professora mas o exercício era: encontrem os erros. A versão correta da crônica foi apresentada depois do exercício. Por favor, leam o post: Ajustando alguns erros

2- Meus agradecimentos a Vlademir M. de Moraes e ao Aurélio Verde, que costumo chamar de o nerd mais fofo da internet, como podem conferir na listagem de links "Utilidades & Outras Nem Tanto".

3- Aproveito para agradecer os muitos e-mails, comentários, elogios, convites e tudo mais. Tenho conhecido pessoas muito, muito bacanas.

4- Estou aí pro que precisarem. Pra quem quiser entrar em contato e ainda não descobriu meu email por aí: minha id no gmail é elidakronig.ek, ok?

5- "um paralama*, um parachoque* e um parabrisa* - todos sem tracinho."
Esta crônica foi escrita em março/2008, quando as informações precisas eram raras e não havia nenhuma publicação confiável. Apesar de tudo, a maioria esmagadora apostava as três palavras sem o hífen. Com as novas regras, as três palavras citadas na crônica deverão ser escritas com hífen: para-lama, para-choque, para-brisa.
Entrei em contato com a Academia Brasileira de letras, indagando sobre o hífen. Na resposta esclareceram que o primeiro elemento trata-se de um verbo, portanto pede hífen. No caso do paraquedas e afins, o hífen foi abolido por ser forma já consagrada pelo uso.
Pensei em atualizar as palavras na crônica mas apagaria o retrato da maré de dúvidas que vivenciamos.

Beijinhos carinhosos
Elida Kronig

Elida Kronig, a original

Motivo para Escrever

Motivo para Escrever
Elida Kronig

     Fui criada pelo medo, sendo constantemente paralisada pelos olhares fulminantes de mamãe.
Em casa, quando sem visitas, podíamos ser crianças e fazer coisas de crianças. Era chegar alguma visita e nosso mundo, meu e de minha irmã, se transformava.

     Havia a regra básica: cumprimentar a visita. Mas não bastava apenas cumprimentá-la, tínhamos que demonstrar o quanto estávamos felizes com aquela visita, ainda que fosse da Dona Elza, uma senhora que se vestia muito esquisita, com seus óculos escuros inseparáveis e uma peruca que, na nossa imaginação, mais parecia um capacete. A amiga de mamãe exalava um cheiro forte e ruim que hoje sei tratar-se de uma péssima mistura de mofo com naftalina. Comíamos as guloseimas que ela nos levava com certa dose de nojo. Sua principal alegria era nos ensinar a comer, e gostar de comer, cabeça de peixe. Ninguém pode nos acusar por nossas reservas quanto a essa senhora.

     De forma geral não podíamos falar nada a não ser que alguém perguntasse alguma coisa. Nesses momentos, deveríamos nos restringir ao "não, muito obrigada" ou ao simples "sim". O sorriso e um leve inclinar da cabeça era obrigatório nos dois casos. A inclinação da cabeça era, portanto, outra de nossas especialidades. Mamãe nos ensinara os momentos certos que deveríamos abaixar levemente a cabeça para frente ou para o lado esquerdo. Até hoje não sei como mamãe conseguia pregar um sermão de infindáveis minutos após testemunhar algum erro de inclinação.

     Ao passarmos para a posição de visitas, as regras tornavam-se maiores e piores. Falar ou se mexer era terminantemente proibido. Chegávamos nas casas, sentávamos de pernas fechadas pondo apenas os pés cruzados, pois cruzar as pernas na altura do joelho era coisa restrita aos adultos somente. As mãos deveriam ficar igualmente cruzadas sobre nosso joelho. As costas deveriam formar uma linha reta até a nuca; encostar confortavelmente no sofá era uma afronta aos ensinamentos que recebíamos. A cabeça ficava inclinada pra frente sem dobrar a nuca.

     Numa determinada época, descobri que escrevendo podia desaguar a criança que eu era. Podia brigar com mamãe sem afrontá-la e sem correr o risco de ter uma colher de pau a carimbar meus glúteos e coxas.

     Fomos crescendo e mamãe foi se tornando maleável. Na adolescência, com os anseios de liberdade invadindo todos os meios e dominando o ar, tivemos uma mãe que era a representação desta época: uma mistura entre a tradição repressora e a liberalidade contemporânea. Estamos entre as raras adolescentes que tiveram educação sexual dada pela família. Tios e primos tiveram uma participação fundamental no processo. Ainda hoje, mamãe superaria com louvores as mães atuais.

     Os tempos evoluíram, o amadurecimento trouxe a compreensão aos atos de mamãe e a vida adulta brinda com saudade e orgulho a educação que recebemos. O gosto por escrever, iniciado nos tempos de infância, continua sendo meu brinquedo, minha arma de guerra, de proteção, de reflexão e superação.


Beijinhos carinhosos
Elida Kronig, a original

Saudades de tuas cores, Zimbabwe!

Hoje acordei com saudades de Zimbabwe. Não é lugar "da moda" em roteiros de viagens mas é um lugar que conquista à primeira vista.

Segundo meu passaporte, daqui a pouquinho estará completando três anos de minha segunda e última visita ao país. Fiquei cinco dias a menos do que da primeira vez, entretanto, os passeios fizeram valer como se tivesse ficado o dobro do tempo.

Não diriam que o Brasil é um país de contradições se conhecessem Zimbabwe. Naquelas paragens tanto choramos pela magnífica e espetacular beleza quanto pela sórdida política imposta por Mungabe.

Robert Mugabe subiu ao poder em 1980 e ainda dita as (des)ordens por lá. A história dele até que é bonita, bem nacionalista. Porém, como dizem os sábios, só conheceremos o caráter de alguém quando damos-lhe o poder. De herói de um povo a um cruel sanguinário bastou-lhe tomar as rédeas da nação. Observação: alguns noticiários tentam diminuir ou até zerar a importância de Mugabe no Zimbabwe de hoje. Pura ilusão! É ele e sua família que ainda mandam e desmandam nos horizontes zimbabweanos (corrupção, roubos, torturas, assassinatos, massacres, povo na miséria, desemprego a 80% e inflação de cem mil por cento).

Quando estive em Ébora, notei a preocupação do povo português com os destinos daquele país africano. Os poetas zimbabweanos são declamados por toda parte, numa iniciativa contra as violações de direitos humanos no Zimbabwe. A explicação dessa "preocupação" lusitana está na própria história de Zimbabwe, ainda quando se chamava Rodésia. É que os ingleses "tomaram conta" enquanto os portugueses se achavam donos da terra. Sentem-se roubados mas no fundo eles sabem que se estivessem no lugar da Inglaterra, o mesmo destino (ou pior, se compararmos com o que fizeram com nosso Brasil) teria sido imposto: exploração pura.

Os poetas daquele recanto da África imprimem com exatidão esse sentimento. Alinham o pôr do sol no rio Zambeze ou a alvorada no lago Kariba (ambos na fronteira com Zâmbia) com o Gukurahundi (tradução do shona: o início da chuva que varre o debulho afastado antes das chuvas da primavera).

Nota: Leia sobre Chenjerai Hove, Chirikuré Chirikuré e Dumbudzo Marecharas, que dividiram as atenções com Isabel Allende, Mario Vargas Llosa e Mia Couto no Festival Internacional de Literatura de Berlim, entre 04/09 e 16/09/2007. Representando a literatura brasileira, João Cabral de Melo Neto, Reginaldo Ferreira da Silva e Henriques Britto. Arnaldo Antunes e Chico Cesar deram show para aproximadamente 10 mil expectadores.

A língua Shona lembra-nos os estalidos das castanholas e não há nada que impeça-nos de parar ao ouví-los conversar. A força da atração que provocam nos impedem de seguir nosso rumo. Não sei se podem se encaixar entre os dialetos bantos mas acredito que sim.

E as cores? Fauna, flora e paisagens são um amontoado harmônico de cores sem fim. Do lagarto ao artesanato de Bulowayo. Do céu das savanas ao arco-íris de Victoria Falls.

Essa saudade sei de onde vem. Vem do céu ultimamente cinza do meu Rio de Janeiro. Vem das obras intermináveis pra levantar meu barraco (falta tanto pra acabar). Vem da falta dos pássaros a vim bebericar de meus bebedouros, ocupados que estão em conquistar as fêmeas. Vem da ausência das risadas das crianças que ocupavam as ruas sem chuva. Vem da falta de ouvir a gritaria de minhas sobrinhas, distorcendo meu apelido de família.

a poem for Zimbabwe
(um poema para Zimbabwe)

i am the only one
you are the only one.
(sou somente um
somos somente um)

the birds and the rivers
sing to me,
they speak in your voice.
(os pássaros e os rios
cantam pra mim
eles falam em nossa voz)

if i fall silent
you will be silent too.
if i fall silent
your wounds will be named silence.
(se silencio
vocês serão silenciados também
se silencio
suas feridas serão chamadas silêncio)

i am a piece of you
and you are a piece of me.
(sou uma parte de você
e você é uma parte de mim)

the blood in my veins is you.
listen to the rhythm
of the stream of my blood
and the echoes from the hills,
mixed with gentle ripples
of the waters in the fast stream.
(o sangue em minhas veias é seu
ouça o ritmo
do córrego em meu sangue
e os ecos das serras
misturados com suaves ondulações
das águas velozes do córrego)

but with time
you will hear your voice
in the blue skies of my heart.
(mas com o tempo
você vai ouvir a sua voz
no céu azul do meu coração)

in the dark clouds of my soul
you will hear a voice
that tells the story of your forgotten voices
of birds long dead
of elephants crippled by guns
of orphans you do not deserve.
(nas nuvens negras da minha alma
você vai ouvir a voz
que narra a história de suas vozes esquecidas
dos pássaros à muito mortos
de elefantes minados pelas armas
de órfãos que não mereçem.)

© 2003, Chenjerai Hove
Livro: Blind Moon
Publicação: Weaver Press, Harare, 1985
ISBN: 1779220197

Beijinhos

Elida Kronig, a original

Notícia do dia 13/10/2008 17:05:00

União Européia ameaça Zimbábue com novas sanções

A União Européia (UE) ameaça o regime do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, com novas sanções por sua "decisão unilateral" de formar um Governo sem o consenso da oposição, o que descumpre o pacto de união assinado em 15 de setembro.

O Conselho de Assuntos Gerais e Relações Exteriores da UE pediu a Mugabe que cumpra o pacto, que foi obrigado a assinar com o opositor Morgan Tsvangirai, após 28 anos no poder.

Há dois dias, como não chegava a um acordo quanto a divisão dos ministérios, Mugabe anunciou, de forma unilateral, que assumiria o controle das pastas de Defesa, Finanças e Interior.

A UE também expressou sua "preocupação" com a situação humanitária no país africano, que acaba de receber uma ajuda adicional de 10 milhões de euros da Comissão Européia (CE).

As informações são da Agência EFE